POR RUBENS WAJNSZTEJN

Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC. Participante fundador do NEA – Núcleo Especializado em Aprendizagem da FMABC. Mestrado em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Especialização em Neurologia Infantil.

Em indivíduos com deficiência intelectual, as comorbidades podem estar presentes em 30 a 50% da população. É importante rastrear a história familiar de transtornos
neuropsiquiátricos, e considerar três aspectos principais no advento de comorbidade: patogenia, diagnóstico (sintomas sobrepostos) e prognóstico. Deve-se considerar também o impacto dos novos
métodos e da recategorização advinda do DSM-5 para os outros transtornos neuropsiquiátricos. Na primeira década deste século, houve um aumento de 331% na incidência de Transtornos de Espectro Autista, incluindo-se a recategorização em até 78% (adolescentes) e 48% (crianças), na população americana. A agressividade impulsiva pode ser entendida como um limiar mais baixo para a ativação de respostas agressivas a estímulos externos sem reflexão adequada ou consideração a respeito das consequências aversivas do comportamento.

Ela pode ser concebida como um desequilíbrio entre o controle descendente, promovido pelo córtex frontal orbital e o giro do cíngulo anterior (envolvido na adaptação do comportamento às expectativas sociais e futuras e em prever as expectativas de recompensa e punição) e os impulsos ascendentes gerados nas estruturas límbicas, tais como a amígdala e a ínsula. A agressividade impulsiva pode estar associada a várias disfunções diferentes no circuito envolvido na resposta aos estímulos ambientais. O tratamento dependerá da localização do problema dentro do circuito. Inicialmente, o estímulo ambiental é processado pelos centros auditivo, visual e outros centros de processamento sensorial (álcool, drogas ou distúrbios metabólicos podem distorcer a percepção sensorial fazendo com que o estímulo seja percebido como ameaçador). Então, esta informação é modulada em centros de processamento de informação sensorial em áreas de integração visual e auditiva e em regiões associativas como o córtex pré-frontal, temporal e parietal. A informação é modulada por fatores culturais e sociais e pode ser distorcida por déficits de processamento (ocasionando ideação paranóide) ou influenciada por esquemas negativos secundários ao estresse do desenvolvimento, traumas ou experiências negativas duradouras.

Finalmente, o estímulo é processado na amígdala e áreas límbicas relacionadas de acordo com o condicionamento passado das emoções. Esse processamento produz os estímulos ascendentes que serão modulados pelo controle descendente gerado principalmente pelo córtex órbitofrontal e pelo giro do cíngulo anterior, como mencionado previamente. Vários neurotransmissores (como a serotonina, a dopamina, a noradrenalina, entre outros) estão envolvidos no equilíbrio entre os impulsos ascendentes e o controle descendente resultantes de estimulação aversiva ou provocativa. A identificação do papel desses neurotransmissores é essencial para o desenvolvimento de estratégias farmacológicas para o controle do comportamento agressivo impulsivo. Um número impressionante de estudos, utilizando
diferentes técnicas de pesquisa tanto clínicas quanto pré-clínicas, encontrou associação entre hipofunção serotoninérgica e comportamento impulsivo ou agressivo.


TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DO COMPORTAMENTO IMPULSIVO E AGRESSIVO
Duas intervenções principais podem ser utilizadas no tratamento do comportamento impulsivo e agressivo. A primeira é tratar o transtorno “primário” do qual este comportamento é considerado parte. A segunda abordagem possível é tratar o comportamento agressivo impulsivo como um transtorno psiquiátrico primário com base no fato que tal comportamento possui alguns mecanismos neurobiológicos que ocorrem independentemente do transtorno psiquiátrico associado. Como o comportamento agressivo associado a diferentes transtornos apresenta os mesmos aspectos neurobiológicos, esse pode ser tratado com a mesma abordagem farmacológica atuando em alvos-chave, tais como a serotonina ou o córtex pré-frontal. As drogas que comprovaram ser eficazes no tratamento do comportamento agressivo impulsivo são os estabilizadores de humor (lítio, carbamazepina, oxcarbazepina, valproato e topiramato), os antipsicóticos (clozapina, olanzapina, quetiapina, entre outros), os bloqueadores beta-adrenérgicos, a buspirona (um agonista parcial do receptor de 5-HT1A), o ácido graxo essencial ômega-3 e os antiandrógenos. A clonidina e guanfacina produzem uma estimulação dos auto-receptores alfa2-adrenérgicos no locus coeruleus que resultam na ativação mais baixa e, portanto, uma diminuição na libertação de noradrenalina que, por sua vez, uma melhoria na regulação da produção noradrenégica, com diminuição da excitação e redução da hiperatividade e impulsividade. Sua ação indireta sobre o córtex pré-frontal aumenta a regulação noradrenérgica, melhorando as funções relacionadas a ele: atenção, controle de impulso, controle de distração e regulação emocional.

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