POR ADRIANA LEISTER

Terapeuta Ocupacional pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Consultora em Inclusão e Desenvolvimento Infantil com Capacitação em Integração Sensorial pela Universidade Federal de Minas Gerais e Certificação Internacional pela University Of Southern Califórnia

INTEGRAÇÃO SENSORIAL E A CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN (T21)


Algumas crianças com síndrome de Down (T21) podem apresentar desordem de processamento sensorial, mas é importante recordar que elas tem uma alteração genética primária que, por si só, provoca diferenças no ritmo de maturação do sistema nervoso central, no desenvolvimento cognitivo, motor, linguístico e social. Alguns componentes de processamento sensorial podem estar alterados também, mas eles não são as causas de base dos atrasos e dos problemas enfrentados por estas crianças.
Para uma intervenção de sucesso é preciso que haja avaliação criteriosa de um terapeuta com formação e experiência em Integração Sensorial e de médicos que possam auxiliar no diagnóstico diferencial, pois várias possíveis razões de âmbito da medicina explicam alguns comportamentos semelhantes aos sinais de disfunção ou desordem de Integração Sensorial. Exemplos: a letargia e a pouca energia podem ocorrer por uma disfunção da tireoide ou apneia do sono e não por falha de processamento sensorial. Em alguns casos, a letargia e a baixa energia estão relacionadas a um estado de depressão. O ranger de dentes (bruxismo) é outro comportamento que pode advir de ambas as condições, processamento sensorial ou problemas médicos: a dor do seio maxilar, a perda de dentes, a instabilidade da mandíbula e
a infecção de ouvidos podem ser a origem do bruxismo.

Igualmente, a fístula traqueoesofágica pode produzir incômodos ao engolir alimentos, que poderiam ser mal interpretadas como hipersensibilidade às texturas do alimento (Maryanne, 2016). A deficiência de
zinco pode alterar o sabor dos alimentos e a criança pode não comer alimentos que antes gostava. Desse modo, avaliações médicas periódicas são aliadas importantes na identificação da desordem de processamento sensorial em crianças com a síndrome de Down (T21).


A TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL


Esta abordagem deverá ser aplicada por um terapeuta ocupacional capacitado na avaliação, análise e interpretação dos dados encontrados. Só assim, este profissional poderá estabelecer um planejamento terapêutico individualizado que atenda as necessidades da criança. Os métodos de avaliações envolvem instrumentos padronizados, sendo o SIPT (Teste de Integração Sensorial e Práxis) o “padrão ouro” para análise de performance infantil. Observações Clínicas estruturadas e não estruturadas e os questionários Perfil Sensorial 2 e SPM (Medida de Processamento Sensorial) são outras ferramentas importantes. O VMI (Developmental Test of Visual-Motor Integration) e MABC–2 (Movement Assessment Battery for Children) fornecem informações extras sobre desempenho visual e motor, resultados de um bom processamento sensorial.

A singularidade desta intervenção está em usar o brincar, não necessariamente usar jogos e brinquedos, mas o BRINCAR como atividade espontânea da criança para estimulá-la. É uma terapia que tem como objetivo principal realizar sua intervenção em ambiente organizado, contendo equipamentos e estímulos específicos de natureza tátil, proprioceptiva e vestibular.

A chave deste tratamento está em promover uma aliança com a criança, seguir sua liderança e propor desafios na medida certa para apoiar a sua participação em brincadeiras e experiências com movimento e diferentes sensações que auxiliam o desenvolvimento do esquema corporal e consciência ambiental para que ela possa, assim ter sucesso em atividades escolares, de autocuidado e lazer.

O terapeuta precisa constantemente observar e interpretar as respostas da criança e antecipar comportamentos inesperados, garantindo seu sucesso e sua segurança física. Não se deve predeterminar a ordem das atividades! As preferências das crianças e suas respostas aos estímulos guiarão as escolhas do terapeuta e mudanças serão realizadas para facilitar seu engajamento. O mais importante é ter em mente as necessidades da crianças Algumas experiências sensoriais tem caráter mais inibitórios, outras excitatórios e outras são organizadoras.

Para as crianças que apresentam defensividade tátil, seletividade alimentar, insegurança gravitacional ou aversão ao movimento, o mais importante é não impor os estímulos e sim combinar gradualmente experiências sensoriais problemáticas/aversivas com estímulos potencialmente inibitórios e organizadores (tato profundo e propriocepção) para apoiar sua participação nas brincadeiras e atividades.
Seguem abaixo alguns sinais de Disfunção de Integração Sensorial em criança:


• Atraso e/ou diminuição da percepção de dor;
• não percebe que se está suja;
• não tolera texturas como cola, tinta, massinhas, cremes;
• não gosta de pisar na areia ou grama;
• não gosta de fila;
• tem muita resistência para escovar os dentes, pentear e/ou cortar os cabelos, cortar as unhas;
• se incomoda com etiquetas em suas roupas;
• se limita a certas texturas de alimentos;
• mostra preferência por certas roupas e toma suas próprias decisões ao se vestir;
• não tolera meias ou calçados;
• se arrisca em brincadeiras, parecendo não ter noção de perigo;
• pode girar e se movimentar sem ficar tonta;
• pode parecer muito agitada;
• tem medo desproporcional de movimento e altura como subir e descer escadas; escalar e descer de escorregadores;
não gosta de balanços, pula-pula e brinquedos de parque;
• move-se com muito cuidado e de maneira tensa;
• se irrita quando movida pelo espaço;
• não gosta de tirar os pés do chão;

• relata enjoo ou tontura no carro, elevador ou quando se movimenta;
• não tolera ruídos ou ambientes com muitas pessoas;
• tromba nas coisas sem se dar conta;
• cansa-se facilmente nas atividades físicas;
• pode parecer muito lenta;
• experimenta com frequência dificuldades com orientação espacial;
• gosta de mastigar objetos (ex.: o lápis ou a gola de camisa);
• se debruça na mesa durante atividades de escrita, desenho ou colorido;
• não gosta de novos desafios;
• prefere repetir as mesmas atividades;
• tem muita dificuldade para aprender tarefas motoras novas;
• não faz ideia de como explorar os brinquedos;
• parece descoordenada, desajeitada;

Por fim, cabe dizer que Integração Sensorial é um processo natural e biológico que nos permite ser o que somos e fazer o que fazemos. A terapia que usa esta abordagem é importante não somente para aquelas crianças com síndrome de Down (T21) com alguma disfunção ou falhas de processamento sensorial, mas para potencializar o desenvolvimento de todas elas, uma vez que as mesmas encontram desafios em seu desenvolvimento.

Guia T21

Esse texto faz parte do nosso Guia sobre T21 que você pode baixar completo gratuitamente na versão digital.

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