POR DRA. ELISABETE CARRARA DE ANGELIS*

Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana e Doutora em Neurociências (Unifesp-EPM). Especialista em Voz e em Motricidade Orofacial. Diretora do Departamento de Fonoaudiologia do A. C. Camargo Cancer Center.

À medida que a criança cresce, há desafios no desenvolvimento das habilidades de comunicação,
incluindo todas as áreas acima citadas. A estimulação da compreensão e produção de vocabulário inicial com jogos, miniaturas e ações concretas para suplementar a exposição de linguagem da criança, em alguns programas para estimulação de linguagem na síndrome de Down (T21) (Weitzman et al 2018; Clements-Baartman etal, 1995) sugerem o ensino e a prática de palavras e frases simples (2 a 3 palavras). A literatura tem sugerido que a abordagem de imersão da criança na linguagem como um todo, sem definição de metas, não é suficiente para seu desenvolvimento. Sugerem
que as palavras escolhidas para imitação contenham consoantes iniciais que a criança seja capaz de fazer, salientando a necessidade de trabalhar a produção dos sons da fala antecipadamente ao trabalho de vocabulário e linguagem (Stoel-Gammon, 2001). Além disso, sugerem encorajar a imitação de sons, sempre que possível.

Esta abordagem vem muito ao encontro dos novos conhecimentos sobre Apraxia de Fala na Infância e sua incidência alta na síndrome de Down (T21). Ainda não se sabe exatamente a incidência de apraxia nas crianças com síndrome de Down (T21), mas uma vez que ela seja identificada, a abordagem fonoaudiológica deve, obrigatoriamente, ser muito
diferente do que a tradicionalmente realizada, pois necessita incorporar princípios do aprendizado motor.

Vários métodos existem para o tratamento da AFI e até o momento não há estudos de eficácia dos mesmos (Carrara-de Angelis, 2018). O que se sabe é que, menos importante do que o método, o conhecimento aprofundado da neuroplasticidade e dos princípios do aprendizado motor devem ser seguidos, dentre estes últimos:

1 – Seleção e Ensino de produções-alvo;

2 – Repetição;

3 – Intensidade do tratamento;

4 – Especificidade e;

5 – Pistas multissensoriais.

A terapia, portanto, deve ter FOCO, ser INTENSIVA, METÓDICA E SISTEMÁTICA, porém com muita MOTIVAÇÃO.
À medida que a criança se desenvolve, novos alvos devem ser constantemente estabelecidos, com aumento crescente de complexidade nas áreas onde houver dificuldade, e adequando os interesses à idade da criança. A motivação, além de ser essencial para o vínculo com o terapeuta, ativa circuitos de gânglios da base, essenciais para que a neuroplasticidade
ocorra. Estudos (Miller et al 1999; Jenkins, 2001) e a prática clínica demonstram que as habilidades de fala e linguagem podem ser melhoradas com a fonoterapia inclusive na vida adulta, embora esta não seja a realidade de nosso país.
Ainda são necessários estudos de eficácia quanto às abordagens de tratamento fonoaudiológico e a melhor forma de prescrevê-las. Todo o esforço neste sentido é válido, uma vez que a comunicação abre as portas do mundo para que um
indivíduo com síndrome de Down (T21) possa viver em todo seu potencial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Buckley S.; Prevost P. Speech and language therapy for children with Down syndrome. Down Syndrome News and update, 2(2), 70-76; 2002
2. Carrara-de Angelis, E. Apraxia de Fala na Infância e Trissomia 21. In:
Mustacchi, Z; Salmona, P; Mustacchi, R. Trissomia 21 – Nutrição, Educação
e Saúde. Pgs 179-182. São Pauo, Memnon, 2018
3. Chapman, RS. Language development in children and adolescentes with Down syndrome. Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews, 3, 307-312; 1997
4. Chapman, RS; Hesketh, L. Language, cognition and short-term memory in individuals with Down syndrome. Down syndrome Research and Practice, 7 (1), 1-8, 2001.
5. Clements-Baartman, J; Girolametto, L. Facilitating the acquisition of two-word semantic relations by preschoolers with Down syndrome: efficacy of interactive versus didactic therapy. Canadian Journal of Speech Language Pathology, 19, 103-111, 1995.
6. Jarrold, C; Baddeley, A. Short-term memory in Down syndrome: applying the working memory model. Down syndrome Research and Practice, 7(1) 17-24, 2001.
Jenkins, c. Adults with Down syndrome: an investigation of the efects of Reading and language skills; PhD thesis, 2001.
7. Stoel-Gammon, C. Down syndrome phonology: developmental patterns and intervention strategies. Down syndrome Research and Practice, 7 (3), 93-100, 2001.
Weitzman, E; Clements-Baartman, J. Vocabulary intervention for children with Down syndrome: parente training using focused stimulation. Infant todler Intervention, 8(2), 109-125, 2018

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