POR DRA. ANA ELISA RIBEIRO FERNANDES

Pediatra com Área de atuação em Medicina do Sono. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente – UFMG. Médica do Ambulatório do Sono do Hospital João Paulo II (FHEMIG). Responsável pela polissonografia pediátrica do Laboratório do Sono do Núcleo de Otorrino.

O sono é um período em que ocorre redução de atividade motora, diminuição da interação e responsividade ao ambiente, adota-se uma postura específica (deitado com olhos fechados) e é de fácil reversibilidade. É um processo ativo, com redução de apenas 10% do metabolismo em relação à vigília relaxada, tem um papel essencial na nossa vida e inúmeros eventos, para manter uma boa saúde, ocorrem exclusivamente nesse período. Se o sono é prejudicado na sua quantidade ou qualidade, esses eventos não serão realizados de forma adequada. 

O sono é muito importante durante a fase de desenvolvimento. Estima-se que nos dois primeiros anos a criança passe treze meses dormindo. De dois a cinco anos, a mesma quantidade de tempo dormindo e
acordado. E até a adolescência o sono ocupa 40% do dia. Durante o sono, ocorre comunicação entre regiões do cérebro, liberação de neurotransmissores que facilitam o armazenamento e o aprendizado
de fatos ocorridos durante o dia e síntese de proteínas, ou seja, o sono é para o cérebro o que o exercício físico é para nossos músculos. O sono é necessário para lembrarmos do que aprendemos, para uma boa função executiva (organizar pensamentos, predizer resultados e consequências, planejarmos ações para atingirmos nossas metas), para reagirmos rapidamente, realizar tarefas de forma acertada e eficiente,
pensarmos de forma abstrata e para a criatividade. Além disso, um sono adequado nos protege de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, melhora as respostas do
sistema imunológico e promove o crescimento através da liberação do hormônio GH.
Portanto, as ideias de que nosso corpo se desliga durante o sono para recuperar das atividades realizadas durante o dia e que dormir é perda de tempo devem ser corrigidas.

ESTÁGIOS DO SONO


O sono é dividido em 4 estágios bem definidos. Inicia-se no estágio N1 que dura cerca de 5% da noite, é uma transição para que nosso cérebro faça alguns ajustes para passar do estado acordado para o sono. O estágio N2 dura cerca de 50% da noite e é quando ocorre uma atividade cerebral, exclusiva dessa fase, chamada fusos do sono que indica uma comunicação entre os dois hemisférios do cérebro e entre o tálamo e o córtex. O estágio N3 é o de sono profundo, na criança ele é extremamente protegido.
É o primeiro estágio que o corpo tenta compensar após uma noite mal dormida. Em seguida entra-se no estágio REM, quando ocorre a maioria dos sonhos. Nesse estágio, também chamado de sono paradoxal, apesar dos olhos estarem fechados, eles se movem rapidamente, como se estivessem observando um ambiente, os neurônios voltam a disparar rapidamente, semelhante à vigília, mas os
músculos estão em atonia para nos proteger de vivenciarmos os sonhos. Após um ciclo de sono (N1, N2, N3 e REM), o cérebro se ativa rapidamente sem que percebamos (um brevíssimo despertar) e iniciamos um novo ciclo, completando 4 a 6 ciclos em uma noite.
Nas crianças com Trissomia do 21, a duração de cada estágio de sono em uma noite é diferente de crianças típicas, o que já coloca essas crianças em risco de terem um sono de pior qualidade. Elas demoram mais tempo para dormir, tem um sono mais interrompido e se mexem mais enquanto dormem. Para compensar o tempo que não conseguiram dormir bem, elas acabam ficando mais tempo na cama. Os estágios N1 e o N2 estão aumentados, porém a atividade elétrica (fusos do sono), que indica a comunicação entre as regiões do cérebro, está diminuída.
O estágio profundo (N3) está aumentado e os pesquisadores acreditam que o motivo é que eles sempre estão tentando compensar noites mal dormidas. O estágio dos sonhos (REM), assim como o neurotransmissor produzido durante esse período (acetilcolina), que são muito importantes para o aprendizado, estão diminuídos.

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