POR EMÍLIA GAMA

Assistente Social. Msc. em Ciência da Educação. Especialista em Neuropsicopedagogia, Abordagem
Interdisciplinar em síndrome de Down e Saúde Mental com ênfase em TEA – Transtorno do Espectro
Autismo. Diretora Pedagógica do Instituto de Educação e Pesquisa em Saúde e Inclusão Social.

Dentre as características mencionadas estão a aprendizagem mais lenta, dificuldades com o processamento, execução e abstração da informação, dificuldades de memorização, a instabilidade de conteúdos aprendidos, um custo mais elevado para que se alcance o mesmo grau de conhecimento, dificuldades de generalização de conteúdos aprendidos para outros contextos, menor capacidade de resposta e de reação frente ao ambiente, dificuldades no autocontrole de comportamentos e emoções, dificuldades de  comunicação, baixo nível de perseverança quando encontram dificuldades, pouco uso das habilidades aprendidas, aprendizagem facilitada quando são utilizadas imagens, sinais e gestos no processo de ensino.
Isso posto, fica explicito que alunos com síndrome de Down (T21) possuem necessidades educacionais especiais. Esse conjunto de características, como um farol a reluzir, guiará o educador pelos caminhos nas tomadas de decisões que levarão a uma maior probabilidade de sucesso no ensino e na aprendizagem desse aluno. Nesse percurso, o professor deverá adotar estratégias didáticas que facilitarão esse processo, aplicando-as de modo individualizado de aluno a aluno.

A partir das especificidades e necessidades de cada educando, o professor deve utilizar mais exemplos de exercícios e atividades para o alcance dos mesmos objetivos, será necessário decompor a atividades em pequenos passos, utilizar atividades práticas
e funcionais visando a promoção da independência do aluno, deverá realizar adaptações curriculares individualizadas, utilizar recursos visuais, etc. Essas estratégias permitirão que a aprendizagem de conteúdos específicos seja realizada de maneira mais eficaz
e menos tortuosa para o estudante. Face às grandes transformações ocorridas no mundo, é imprescindível que a escola, como fonte de formação de pessoas e de saber acompanhe essas mudanças adaptando-se a realidade da sociedade e de seus alunos. O mundo moderno necessita de uma escola moderna, com estratégias modernas, com professores capacitados para atender as necessidades individuais de seus alunos, há que se buscar o melhoramento contínuo dessas práticas. Nenhum aluno pode ser abandonado, esquecido, negligenciado, deixado à margem desse processo.

Colocadas essas questões cabe a pergunta:
o que ensinar a um aluno com síndrome de Down (T21)?
A inclusão educacional de estudantes com síndrome de Down (T21) é um projeto que beneficia a todos. O trabalho tem início anteriormente ao ensino propriamente dito. Antes de tudo o professor deve avaliar o aluno para selecionar as prioridades a serem ensinadas. Essa etapa permitirá que o professor conheça seu aluno, seus interesses, as habilidades presentes e ausentes em seu repertório, programe o ensino e o que ensinar, administre com mais eficácia o tempo, uma vez que, a aprendizagem desse aluno será mais lenta e confeccione recursos e materiais específicos quando necessário.Education and Training – Down Syndrome Australia
Toda essa estruturação e organização permitirão que o processo de aprendizagem seja personalizado e facilitado, que o aluno se sinta motivado, que goste de realizar as atividades e de estar na escola e com o professor.
Ponto importante é que o professor modifique os procedimentos de ensino caso o aluno não esteja aprendendo através dos selecionados. A responsabilidade pelo insucesso não deve cair sobre o estudante que já carrega “culpas” demais. O bom profissional se questionará: porque o aluno não está aprendendo? O que há de errado com o meu procedimento de ensino? O que devo modificar? Quais estratégias poderei utilizar para alcançar os mesmos objetivos? Todos esses questionamentos devem levar a um único lugar: a mudança.
Mudanças na forma de ensinar, nos objetivos de ensino selecionados para aquele momento, nas estratégias utilizadas, nos recursos confeccionados, na maneira de pensar do professor e, por fim, mas não menos importante, mudança do próprio aluno. Afinal aprender é mudar, é adquirir, é se transformar. Além disso, o professor deverá estabelecer os objetivos a curto, médio e longo prazo. A curto prazo serão ensinadas as habilidades de base, que são fundamentais para a aquisição de habilidades mais complexas como habilidades sociais fundamentais, leitura e escrita de palavras simples, conteúdos matemáticos mínimos, comportamentos socialmente adequados.
A médio prazo pode se pleitear que os alunos sigam os conteúdos dos demais alunos até onde seja possível, que participe de atividades esportivas e sociais e adquira um relativo nível funcional de leitura e escrita. A longo prazo pode-se estabelecer que ele seja o mais independente possível, podendo autogerir-se com a menor quantidade de apoio possível, que possa trabalhar e que exerça e cumpra seus direitos enquanto cidadão.
No momento de selecionar os objetivos o professor deve levar em conta o quão útil e funcional será o que se pretender ensinar na vida do aluno, quais os benefícios e aplicabilidade essa habilidade trará para sua vida. Para isso alguns pontos devem ser levados em consideração no momento de selecioná-los: os que propiciem independência no maior número de ambientes e situações possíveis, os mais importantes para o momento atual da vida do estudante, os que são pré-requisitos para a aprendizagem de outras habilidades, os que favorecem o desenvolvimento de sentidos como atenção e percepção, memória, resolução de problemas, linguagem expressiva e receptiva e socialização.
Rodríguez (2012) detalha pontos fundamentais no processo de ensino do aluno com síndrome de Down (T21) que perpassam desde como ensinar, que são os conjuntos de estratégias necessárias para o professor transmitir o conteúdo; metodologia de trabalho; atividades; materiais, quando ensinar e o que, quando e como avaliar os alunos com síndrome de Down (T21).
Nesse âmbito, tendo como princípio uma escola que orienta e acomoda toda a criança independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, entre outras, o que nos leva acreditar ser o conceito de escola inclusiva.
Uma escola que concentra o desenvolvimento de uma pedagogia com foco no aluno, uma pedagogia na qual todas as crianças possam se beneficiar e que recebendo todo e qualquer suporte extra requerido para assegurar a sua educação, além de ser base para uma sociedade que respeita as diferenças de todos os seres humanos.
Por fim, verifica-se que a educação é a base para o desenvolvimento de uma sociedade, e que o direito a ela deve ser visto como uma condição essencial para uma vida digna. O Estado juntamente com as políticas públicas precisam ser o objeto de medidas capazes para modificar o cenário social, propiciando à população, um ensino de qualidade, como está previsto na Constituição.

REFERÊNCIAS
Help Us Learn: A Self-Paced Training Program for ABA Part I: Training
Manual. – Kathy Lear – Toronto, Ontario – Canada, 2a edição, 2004
Programación educativa para escolares con síndrome de Down.
Emilio Ruiz Rodriguez – Fundacion Iberoamericana Down 21
2012

Guia T21

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